Em dois dias, a quinta reunião do Comitê de Negociações Intergovernamentais, formado por representantes de 175 países, deve chegar a redação de um documental final sobre o destino do plástico no mundo. Reunidos na Coreia do Sul, desde o início da semana, os delegados têm nas mãos a oportunidade única de estabelecerem regras, que mudem o curso do desastre que esse resíduo está causando no mundo. “Precisamos de ações juridicamente vinculantes, financiamento robusto e governança para garantir o sucesso desta iniciativa histórica”, diz Michel Santos, gerente de Políticas Públicas do WWF- Brasil.
Leia:
+ https://veja.abril.com.br/agenda-verde/onu-redige-acordo-internacional-para-reducao-do-lixo-plastico
Apesar das expectativas geradas, as discussões avançam em ritmo lento. Os interesses são imensos e opostos. De uma lado, está a indústria do plástico, que movimenta um mercado avaliado em 586 bilhões de dólares, com projeção de chegar a 750 bilhões em cinco anos. O montante reflete a produção global de 390 milhões de toneladas, por ano. De outro, estão os cientistas preocupados com a saúde do homem e com o meio ambiente, onde é despejado 79% de tudo que é produzido –sim, porque apenas 10% é reciclado e 11% incinerado. Levando em conta que o plástico leva 400 anos para se decompor é fácil deduzir que o nível de fabricação atual não é sustentável. Mesmo assim a indústria defende a melhora da gestão do resíduo e o aumento da reciclagem, sem qualquer alteração na produção. Os cientistas propõem a redução do plástico não essencial, como as sacolas plásticas, que chegaram a níveis insustentáveis de circulação.
Restrições do plástico pelo mundo
Alguns países já adotam medidas isoladas para diminuir o impacto do material no meio ambiente. Estudo publicado na Revista Nature levantou que a proibição dos saquinhos de supermercados em cinco estados e cidades dos EUA, em conjunto, tiraram de circulação seis milhões de unidades por ano. Também há exemplos bem-sucedidos de cobrança de imposto ao consumidor e comerciante. Desde 2015, o Reino Unido cobra uma taxa pelo uso e pela compra da sacola plástica. De acordo com a Sustainable Plastic, a medida reduziu em 80% a presença desse resíduo nas praias do país. Em 2014, os supermercados distribuíam 7,6 bilhões de sacolas e atualmente 564 milhões.
“Esse é um momento para pressionar por um texto, que inclua todas as ferramentas essenciais para o sucesso do tratado e a superação da crise da poluição”, diz Santos. Mas há um prolema. Nas salas de negociação da Coreia do Sul, a presença dos lobistas da indústria é três vezes maior que a de cientistas. E fora delas, há uma forte campanha nas redes sociais pela produção do plástico sem limites. Como dizia o dramaturgo e filósofo romano Lucio Aneo Séneca, “para a ganância, toda natureza é insuficiente”.
Leia:
+ https://veja.abril.com.br/agenda-verde/industria-americana-cria-campanha-a-favor-do-plastico
Deixe seu Comentário