Após o pronunciamento de Haddad da última quarta-feira, o resultado final da fala do ministro pode ser analisado em diversas frentes que, em sua maioria, apontaram para a hipótese de uma declaração eficaz em pautar o debate público em prol do governo federal. No Google-BR o nome do ministro foi a 2ª tendência diária na quarta-feira, junto a termos como imposto de renda e isenção, mas também dólar. No Facebook/Instagram o volume de interações que partiram de páginas de oposição que o citaram representou apenas 16% do total. Imprensa (40%), atores de esquerda (28%) e não-polarizados (17%) apresentaram volume superior e puderam propor o debate sobre a pauta.
Ao analisarmos a repercussão dos anúncios na imprensa, cluster de onde sai o maior volume de interações sobre o tema, o resultado é ainda mais positivo para o ministro: 81% dos comentários enaltecem o anúncio e focam na questão do Imposto de Renda. Outros 17% alternam dúvidas sobre o anúncio com uma abordagem crítica ou citam o aumento do dólar.
A abordagem que foca no alta do dólar apresenta uma origem bastante específica: a fintwit no X. Esse movimento compõe a única oposição ao anúncio nas últimas 24h (e viria a se transformar no mote central dos ataques 48h depois) mas ainda bastante restrita a atuação da oposição que vê um flanco de atuação. Para além do X o debate sobre o dólar atingem alcance limitado: 6 em cada 10 comentários sobre o tema ironizam o “Sempre que o pobre vai ser beneficiado o mercado fica nervoso”, enquanto 2 em cada 10 comentários correlacionam a alta do dólar com o governo Lula por um viés estritamente negativo.
Já no “dia depois” a oposição em conjunto com atores da fintwit aproveitou o arrefecimento do buzz e a marca histórica de R$ 6 para cooptar o debate. Com isso, pautam a discussão sobre o dólar com uma produção de interações e publicações muito mais restrita ao bolsonarismo — e consequentemente à polarização – do que o observado logo após o anúncio do ministro. Com isso, predomina a atuação de atores de oposição e da fintwit neste debate e, com eles, um único destaque: dólar. No ambiente de debate sobre a volatilidade da moeda, páginas bolsonaristas são responsáveis pela maioria das interações.
Interpretada como uma “reação do mercado ao pacote fiscal”, os R$ 6 atingidos na última quinta-feira pautaram 35% das publicações sobre a moeda estadunidense. Os impactos econômicos e na inflação foram de 25%. A participação de atores bolsonaristas neste movimento se evidencia com a atenção dedicada as comparações entre Lula e Bolsonaro: 20%. No mais, debates sobre o ajuste fiscal (15%) e ironias sobre o dólar (5%) como a expressão “faz o L” também geram engajamento de destaque.
De maneira geral, o debate sobre o ministro Fernando Haddad não foi cooptado por atores bolsonaristas (que priorizaram o debate sobre o dólar) mas sim por portais especializados no mercado financeiro e outros atores de oposição. Destaque para a ausência de um campo coeso em defesa do ministro no “pós-anúncio”, ficado assim à deriva no contra-ataque de opositores do governo federal.
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