arcada pela proclamação às margens do riacho Ipiranga em 7 de setembro de 1822, a independência do Brasil não era um consenso e foi motivo de disputas nas diferentes regiões, até mesmo depois dessa data. Um desses marcos foi a Batalha do Jenipapo, que ocorreu em Campo Maior, no Piauí, em 13 de março de 1823. O movimento contou com a participação de cearenses e maranhenses e, apesar de derrotado, desviou a tropa portuguesa. Ele conta com monumento na cidade onde ocorreu, e a data da Batalha é comemorada com espetáculos anuais.
“As tensões começaram de 1820 para 1821, com a chamada Revolução do Porto, uma revolução liberal em Portugal”, contextualiza João Paulo Peixoto Costa, professor do Instituto Federal do Piauí (IFPI) e do Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade Estadual do Piauí (Uespi). Com ela, foi exigida a volta de Dom João VI a Portugal e a elaboração de uma constituição para o País. Após a Revolução, foram convocadas as chamadas Cortes de Lisboa.
A adesão ou não às Cortes de Lisboa variou no Brasil. “Era a primeira vez que tínhamos um momento em que se falava de espaço público, que as pessoas se viam na liberdade de opinar e de querer atuar politicamente na administração pública”, aponta o professor. Antes de ocorrer a Batalha do Jenipapo, a Vila de Parnaíba declarou fidelidade a Dom Pedro I, opondo-se a Portugal. Com isso, o governador das armas do Piauí, João José da Cunha Fidié, encarregado de manter a região fiel a Portugal, deixou a então capital Oeiras.
Os líderes, porém, haviam partido para o Ceará em busca de apoio. Enquanto o governador das armas estava em Parnaíba, segundo explica Costa, houve um golpe em Oeiras que obrigou Fidié a retornar. “Enquanto isso, no Ceará, começam a organizar tropas para tentar resistir, porque inclusive tinham um medo muito grande de que a partir do Piauí houvesse uma investida pró-Cortes de Lisboa para o território cearense”, conta.
Foi nesse caminho de volta que as tropas encontraram-se às margens do rio Jenipapo. Sem treinamento ou armas adequadas, cearenses, piauienses e maranhenses perderam a Batalha. “Mas eles tiveram um trunfo, porque conseguiram roubar tanto o armamento quanto os apetrechos de guerra do Fidié, que ganhou a batalha, mas não teve condições de ir até Oeiras, mudou a rota e foi para Caxias, no Maranhão, ainda fiel às Cortes de Lisboa.”
Para Johny Santana de Araújo, professor do Departamento de História e do Programa de Pós Graduação em História do Brasil da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), o apoio das elites cearenses simpáticas à causa da Independência teve “grande importância”. “Do Ceara partiram as forças que, engrossadas pelos piauienses, formaram o Exercito Libertador. Essas mesmas forças se dirigiram ao Maranhão para assediar Fidié em Caxias”, afirma.
Araújo destaca dois aspectos sobre a relevância da batalha de 13 de março de 1823. Um deles é o caráter político e estratégico para o contexto em que as cortes em Lisboa pretendiam salvaguardar o que restasse do império colonial. “As capitanias/províncias do Norte, especificamente as Maranhão e Grão Pará, tinha parte das elites que se comunicava diretamente com Lisboa. Entre estas e as demais províncias do Sul, encontrava-se o Piauí, que possuía uma elite agrária e comercial que nutria certa antipatia aos portugueses”, conta.
Os portugueses, então, pretendiam manter o estado junto às demais províncias do Norte simpáticas a Portugal. “Isso explica o fato de ter chegado ao Piauí um oficial tão bem experimentado em combate como o major João José da Cunha Fidié, com tão numerosa tropa.”
Segundo o professor da UPFI, a Batalha, com a derrota “a longo prazo” da tropa de Fidié, representa o abandono do projeto português de manter o Norte do Brasil agregado ao império. “Daí a questão simbólica para se compreender que aqui no Piauí foi decidida a Independência do Brasil no Norte. Esse simbolismo tem sido a maior preocupação dos historiadores do estado em dar projeção do Piauí na construção dessa história.”
Monumento da batalha
Às margens da BR-343, na cidade de Campo Maior, Piauí, um monumento reúne relíquias da Batalha de 13 de março de 1823. Ele conta com um museu e com o cemitério onde combatentes foram enterrados.
A história de antes e de durante a Batalha do Jenipapo
3/11/1821
destituição do governador Francisco Alberto Rubim e formação da Junta de Governo do Ceará, fiel às Cortes de Lisboa
7/9/1822
declaração de separação do Brasil de Portugal por dom Pedro I
23/9/1822
notícias em Fortaleza do tumulto indígena contra os portugueses em Maranguape
16/10/1822
formação no Icó de um Governo Temporário em discordância de Fortaleza
19/10/1822
aclamação da coroação de dom Pedro I na câmara da vila de Parnaíba
24/11/1822
juramento da Junta de Governo do Ceará de defender o imperador, a pátria e a “independência moderada a bem da santa causa luso-brasileira”
3/12/1822
demissão dos membros da Junta e entrega do governo a Francisco Xavier Torres
18/12/1822
chegada do governador das armas do Piauí Joaquim José da Cunha Fidié a Parnaíba
23/1/1823
entrada de Pereira Filgueiras em Fortaleza
24/1/1823
proclamação da independência do Piauí por Manuel de Souza Martins em Oeiras
13/3/1823
Batalha do Jenipapo em Campo Maior, Piauí
24/3/1823
chegada da notícia da Batalha do Jenipapo em Fortaleza
28/3/1823
formação do Exército Libertador e Pacificador, liderado por Tristão Gonçalves e Pereira Filgueiras
30/3 a 12/4/1823
estada da tropa indígena de Viçosa em Campo Maior
2/7/1823
adesão da BA à independência
28/7/1823
adesão do MA à independência
15/8/1823
adesão do PA à independência
31/7/1823
rendição de Fidié em Caxias (MA)
Fonte: historiador João Paulo Peixoto Costa, professor de história do Instituto Federal do Piauí (IFPI) e do mestrado profissional em Ensino de História Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
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