Desde o início da pandemia até a última terça-feira, 243.267 pessoas foram consideradas curadas da Covid-19 no Ceará, de acordo com a plataforma IntegraSUS, da Secretaria Estadual da Saúde. Cerca de 8 mil se recuperaram após internação, mas a alta hospitalar não foi suficiente para acabar com os sintomas da doença. Unidades de saúde do Ceará já realizaram mais de mil atendimentos a pessoas com alguma sequela.
Em Fortaleza, desde o fim de abril, o Hospital São José realizou 318 atendimentos a pessoas com algum tipo de sequela da doença. “Até o fim de novembro, a unidade tem 56 consultas já marcadas. A orientação dada pela equipe médica é que os pacientes, mesmo os assintomáticos, retornem regularmente para o acompanhamento”, informa.
A periodicidade das consultas é definida conforme diagnóstico individual. A infectologista do Hospital São José, Melissa Medeiros, explica que o acompanhamento dessas pessoas deve ocorrer entre seis meses e um ano, embora não se saiba por quanto tempo os sintomas devem persistir.
“Alguns se queixam de tosse, um pouco de cansaço, principalmente aos esforços médios e maiores. Outros têm dores articulares, sensação do cheiro e paladar dificultada, descontrole do diabetes ou da hipertensão”, enumera a médica.
Outros relatos incluem perda de memória, mas a médica indica que isso não necessariamente ocorre pelo ataque do vírus, mas pela fadiga, “já que é uma doença que libera muita adrenalina e gera cansaço”.
A vendedora de cosméticos Maria Célia Rodrigues, 56 anos, ainda sofre as consequências da infecção. Ela se recuperou parcialmente no hospital de campanha do Estádio Presidente Vargas, em Fortaleza, onde os médicos constataram que ela chegou a ter 90% dos pulmões comprometidos, em maio.
Cinco meses depois da alta, em junho, ela sente indisposição constante. “Hoje vivo cansada, não tenho mais saúde. Fiquei com as pernas fracas e não aguento ficar muito tempo em pé porque elas começam a doer”, relata. A queda de cabelo parou recentemente com a ingestão de vitaminas recomendadas após consultas médicas.
Diana Arrais de Souza, pneumologista responsável pelos atendimentos do ambulatório pós-Covid no Hospital de Messejana complementa que essa queda de cabelo e dor torácica são outras queixas verificadas entre pacientes que deixaram a internação na unidade.
De julho a outubro, o Hospital de Messejana realizou 132 atendimentos desse tipo. Segundo a médica, são recebidos entre 20 e 25 pacientes mensais. O perfil geral dos assistidos é de meia idade a idosos, em condição social vulnerável, com “leve predominância” para mulheres.
“Não existe um tratamento específico comprovado, então fazemos tudo baseados no conhecimento prévio de outras doenças, incluindo corticoides e broncodilatadores. A maioria acaba melhorando aos poucos, mas é lento”, observa Diana.
A ideia do serviço é acompanhar os pacientes por, pelo menos, um ano. Exames de raio-X serão mantidos mesmo quando eles informarem melhora, “para avaliar se existe algum tipo de sequela”. “Pelo que vi, tem pacientes que vão ficar por mais tempo (do que um ano)”, constata a médica. O retorno varia entre um e três meses depois da primeira consulta.
A Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza informou que pacientes que persistem com sintomas da Covid-19 podem buscar qualquer um dos 116 postos de saúde da cidade ou as seis Unidades de Pronto Atendimento municipais.
Tratamento integrado
Em Sobral, na Região Norte do Ceará, o ambulatório pós-Covid do Hospital de Campanha Dr. Francisco Alves realizou 619 consultas de 28 de julho, quando iniciou as atividades, até o dia 13 de novembro. Tarciana Ferreira Serafim, diretora geral da unidade, explica que, “por ser um serviço novo, iniciamos com um número reduzido e estamos nos aperfeiçoando”.
O serviço realiza busca ativa através de uma lista disponibilizada por hospitais que mantêm parceria com o Ambulatório, um processo não gera filas porque é possível organizar a demanda de atendimento, segundo Tarciana. Atualmente, 79 pacientes continuam sendo acompanhados.
Um fisioterapeuta realiza a avaliação do paciente junto com um médico pneumologista e as sessões de fisioterapia respiratória – aplicada para recuperar a capacidade respiratória – são realizadas no Centro de Reabilitação, entidade parceira que oferece ainda fonoaudiologia e nutrição. Também ocorre direcionamento a Centros de Atenção Psicossocial para demandas de psicologia e psiquiatria.
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