Coronavírus

Mais de seis a cada dez cearenses tiveram sintomas emocionais na pandemia, aponta pesquisa

 De todas as faixas etárias, o medo de sair de casa foi mais frequente entre as pessoas acima de 60 anos de idade

Uma pesquisa do Instituto Opnus foi realizada com 1.408 cearenses e apontou que pelo menos 62% deles apresentaram medo, ansiedade, depressão e pânico durante o isolamento social em decorrência da pandemia do novo coronavírus.

O estudo entrevistou pessoas maiores de 18 anos de Fortaleza e de todas as regiões do estado. A pesquisa feita por telefone foi realizada entre os dias 23 e 26 de julho. O intervalo de confiança do levantamento é de 95%, e a margem de erro máxima é de 2,6 pontos percentuais para mais ou para menos.

No Ceará, já são quase 170 mil casos confirmados e 7,6 mil mortes pela Covid-19.

Conforme o levantamento, medo de sair de casa e medo no geral foram os sentimentos mais citados pelos cearenses, aparecendo em 43% dos relatos. Em seguida, a ansiedade foi a mais presente, vivenciada por mais de um terço (34%) dos entrevistados. Depressão (7%), pânico (4%) e outros sintomas emocionais (2%) completam o escopo. Entre as pessoas abordadas, 38% afirmaram não ter tido nenhuma alteração.

Perfis

As mulheres cearenses foram a maioria entre os que confessaram ter vivenciado esses impactos à saúde mental durante o isolamento social: entre os que sentiram medo, elas foram 50%, e os homens, 34%; ansiedade, 41% e 26%, respectivamente; pânico, 6% e 2%; e dos que declararam não ter sentido nada disso, 47% foram homens e 30%, mulheres.

De todas as faixas etárias, o medo de sair de casa foi mais frequente entre as pessoas acima de 60 anos de idade: que também são a maioria entre os 76% dos cearenses que defendem a continuidade do isolamento social, de acordo com o estudo.

Para Cynthia Melo, psicóloga e pesquisadora da Universidade de Fortaleza, isso reflete um instinto de autoproteção entre eles. “A Covid-19 não seleciona candidatos, mas há os grupos de risco. É possível que os idosos tenham uma instabilidade emocional maior por isso, por se reconhecerem como um desses grupos”.

A professora Cynthia Melo, que coordena outra pesquisa sobre Covid-19, financiada pela Fundação Edson Queiroz, por meio da Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (DPDI), salienta que fatores como depressão, ansiedade e estresse têm influenciado a saúde mental do brasileiro em tempos de pandemia, principalmente entre as pessoas que já tiveram a doença, aquelas que são de grupos de risco ou que moram com pessoas do grupo de risco.

Crises

Ainda que jovem, a assistente administrativa Aleksandra Vasconcelos, 34, também é uma das defensoras da permanência do isolamento – que praticou por três meses, até precisar voltar ao trabalho presencial. “Quanto mais pessoas dentro de casa, mais o índice de contaminação diminui e menos o vírus pode se espalhar. Nem todo mundo se conscientizou, mas obrigatoriamente muitos tiveram que ficar em casa, e isso fez com que a doença não se proliferasse mais ainda. Estamos colhendo os frutos disso”, opina.

Mesmo com o respeito ao isolamento, Aleksandra contraiu a Covid-19, levando cerca de 30 dias para se recuperar de todos os sintomas. “Minha saúde mental foi muito abalada, pelo fato de estar em casa, pela mudança drástica e por medo dos meus pais e do meu filho pegarem. Tive três crises de ansiedade muito fortes, precisei de acompanhamento psicológico”, relembra.

Para Karla Patrícia, psicóloga e professora da Universidade de Fortaleza, medo e insegurança são “naturais” e estão entre os fatores para que a maioria dos cearenses defenda o isolamento, mas “pode-se pensar também que há bom senso de se seguir o que as autoridades de saúde têm determinado”. “Para quem quer ficar em casa mas precisa sair, ou quem pode ficar em casa e quer sair por não suportar mais, o ideal é tomar todos os cuidados. Saber que não acabou, o risco continua e ainda é alto. É preciso se cuidar como no começo: usar máscara, evitar o contato próximo, andar com álcool em gel, evitar aglomerações”, pontua.

O cuidado e o acompanhamento profissionais, alerta Karla, são de suma importância, noção que requer planejamento imediato do poder público quanto ao suporte futuramente necessário.

Otimismo

Apesar disso, a melhora nos índices de disseminação da doença tem refletido, aos poucos, na percepção dos cearenses em relação a ela: de acordo com o estudo, 61% acreditam que a pandemia “está melhorando”, porcentagem que sobe para 80% se recortados apenas os fortalezenses.

Dados detalhados

  • 1.408 entrevistados
  • 12% dos entrevistados tiveram coronavírus (169 pessoas)
  • 60% têm alguém em casa que seja de grupo de risco
  • 43% perderam algum amigo ou familiar para a Covid-19
  • 86% conhecem alguém que já teve a doença

Continuidade do isolamento social

  • 76% são a favor
  • 21% são contra
  • 3% não sabem ou não responderam

Como está a rotina no isolamento?

  • 47% saem de casa só quando é inevitável – no Cariri, são 50%
  • 37% saem para trabalhar e outras atividades
  • 9% estão totalmente isolados, não saem
  • 6% vivem normalmente, sem mudar nada

Qual o nível de preocupação com a pandemia?

  • 47% estão muito preocupados
  • 45% estão pouco preocupados
  • 8% não estão preocupados

A pandemia está melhorando?

  • 61% acreditam que sim – em Fortaleza, são 80%
  • 18% dizem que não melhora nem piora
  • 17% acreditam que está piorando – no Cariri, são 59%
  • 4% não responderam ou não sabem

O que é mais difícil na pandemia?

  • 29% – não poder sair de casa
  • 21% – não poder encontrar familiares
  • 10% – perda do emprego/diminuição da renda
  • 6% – não poder encontrar amigos
  • 4% – medo de ser infectado

Mais de seis a cada dez cearenses tiveram sintomas emocionais na pandemia, aponta pesquisa
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