Há 1,5 milhão de anos, pelo menos duas espécies diferentes de hominídeos – primos evolutivos e parentes dos Homo sapiens – viveram na mesma região, onde hoje fica o Quênia. Pegadas relevam que eles passaram pelo mesmo lugar com horas ou dias de diferença.
Esses parentes distantes andaram pela margem submersa enlameada de um lago, na Bacia Turkana, que fica na fronteira entre a Etiópia e o Quênia. O achado das pegadas – junto de rastros de aves e outros animais – aconteceu num sítio paleontológico famoso por fósseis de hominídeos, conhecido como Koobi Fora.
O biólogo Kevin Hatala, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, liderou o estudo das pegadas publicado na revista Science. No artigo, os cientistas mostram as evidências físicas que mostram a coexistência de múltiplas linhagens de hominídeos naquela região, algo que antes era só especulado com base na idade dos fósseis ósseos encontrados por ali.
Detalhes fósseis
Uma pegada pode parecer pouca coisa, mas ela é um registro fóssil valioso. Dá para analisar como o espécime andava e qual era a sua postura, tudo pelas marcas de contato e pela anatomia do pé.
Analisando os detalhes das pegadas, os especialistas acreditam que os donos dos pés tenham sido das espécies Homo erectus, com pegadas mais parecidas com as dos humanos modernos, e Paranthropus boisei. Esse último, apesar da falta de “homo” no nome, foi um dos primeiros hominídeos a viver na Europa, além de habitar o leste da África. Eles tinham dentes grandes e um crânio especializado para mastigação intensa.
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Os Paranthropus boisei, também conhecidos pelo apelido “homens quebra-nozes”, não são antecessores dos seres humanos, mas estão perto dos Homo sapiens na árvore evolutiva. Pela pegada, eles descobriram a espécie por causa da anatomia do dedão, e até conseguiram perceber que ele estava andando rápido.
É a primeira vez que duas pegadas de espécies de hominídeos diferentes do Pleistoceno são encontradas na mesma região e na mesma época. Analisando as pegadas, os pesquisadores conseguiram identificar dois padrões diferentes de caminhada bípede por toda a região do leste da Bacia Turkana.
Não dá para saber como era a convivência entre as duas espécies de bípedes, mas sabemos que elas compartilhavam os mesmos habitats nos lagos. Os cientistas acreditam que as espécies provavelmente se conheciam, e até se reconheciam como diferentes. É possível que elas tenham entrado em várias formas de competição, ou dividido a região em vários nichos ecológicos.
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