Econômia

Com o “tarifaço” de Trump, Singapura busca estreitar laços com outros blocos e países | Mundo

As incertezas do cenário global, motivadas pela guerra tarifária do presidente americano Donald Trump, têm levado países ao redor do mundo a buscar o estreitamento de laços com outros parceiros. Apesar das atenções estarem voltadas para as reações da China e da Europa, movimentações de outros blocos também se destacam.

Singapura, a pequena nação insular com pouco menos de 6 milhões de habitantes, liderou as discussões na cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), no fim de maio. O bloco, formado também por Indonésia, Malásia, Tailândia, Vietnã, Brunei, Camboja, Laos, Mianmar e Filipinas, acordou em ampliar sua integração, estabelecendo novos acordos com redução de tarifas, e uma maior aproximação da China e de países do Conselho de Cooperação do Golfo.

Singapura, uma cidade-Estado com pouco mais de 6 milhões de habitantes, é conhecida por ser um importante “hub” financeiro e comercial da Ásia.

Dados do Ministério de Indústria e Comércio do país mostram que o fluxo total de comércio em 2024 atingiu cerca de US$ 1,2 trilhão, com as exportações somando US$ 524 bilhões e as importações, US$ 475 bilhões. Em termos de comparação, o fluxo comercial do Brasil no ano passado foi da ordem de US$ 600 bilhões.

“O comércio não é só retórica, é essencial para a nossa sobrevivência”, disse ao Valor o chanceler singapuriano, Vivian Balakrishnan.

Por isso, Singapura vem intensificando a posição do país em defesa das relações multilaterais e vê com crescente apreensão os efeitos do governo Trump no cenário internacional — sobretudo no tensionamento dos Estados Unidos com a China, seus dois principais parceiros econômicos. A trégua acordada em Genebra no mês passado e reafirmada na quinta-feira após a primeira conversa direta por telefone entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, é vista como frágil.

Na avaliação da diplomacia singapuriana, se as relações entre as duas potências voltarem a azedar e Washington e Pequim retomarem tarifas da ordem de três dígitos, os efeitos poderão ser devastadores para a cidade-Estado.

O risco de uma onda inflacionária como consequência da guerra tarifária é outra preocupação do governo de Singapura, por seu potencial em gerar desconforto social. O país de pouco mais de 700 quilômetros quadrados importa mais de 90% da comida que consome. O governo planeja aumentar a produção local de alimentos de 10% para 30%, mas com pouco espaço físico — mesmo para fazendas tecnológicas “indoor” — esse percentual é visto internamente como uma meta muito difícil de ser alcançada. Isso faz com que um aumento de preços no mercado externo impacte diretamente o custo de vida já alto para os singapurianos.

Para reduzir sua vulnerabilidade, Singapura tem buscado diversificar as importações. Por exemplo, segundo relatório da Agência Alimentar de Singapura (SFA, na sigla em inglês), o Brasil é o maior exportador de frango, porco e carne bovina para Singapura. Mas a cidade-Estado também importa os mesmos produtos dos Estados Unidos, Argentina, Austrália e Malásia. As frutas servidas na ilha também podem chegar da África do Sul, da China ou das Filipinas; enquanto os peixes têm origem na China, Tailândia, Malásia, Indonésia e Vietnã.

Além de ser membro da Asean, Singapura também é signatário do Acordo Global e Progressivo para a Parceria Trans-Pacífico (CPTPP, na sigla em inglês), um acordo comercial negociado pelos EUA durante o governo de Barack Obama como uma forma de isolar a China, mas que depois foi abandonado por Donald Trump logo no início do seu primeiro mandato. O CPTPP, criado em 2018, tem hoje 12 membros: Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Singapura, Vietnã e Reino Unido.

No fim de 2023, Singapura assinou um acordo de livre comércio com o Mercosul, mas que ainda está pendente da ratificação dos membros do bloco sul-americano. Ainda não há previsão para que isso aconteça a curto prazo. Segundo o presidente do Parlasul, o deputado brasileiro Arlindo Chinaglia (PT), o texto do pacto ainda está sob revisão jurídica e de tradução.

“Penso que agora há mais razões [da América Latina] para olhar para o Pacífico e para as oportunidades, dado o estado atual do mundo”, diz Balakrishnan, o ministro das Relações Exteriores singapuriano.

O diplomata prossegue: “Esse potencial de destruição da ordem comercial mundial deve nos levar a reforçar e acelerar nossos laços políticos, econômicos e comerciais com a América Latina.” Vivian Balakrishnan argumenta, em mensagem ao Brasil: “Estamos aqui para lembrá-los de olhar para o outro lado do Pacífico. Todos falam agora em diversificação, em resiliência, em não ser dependentes demais. Quando fui pela primeira vez ao Brasil, há 21 anos, eu já tentava firmar um acordo com o Mercosul: ‘Podemos fazer um acordo de livre comércio?’ E riram de mim, porque éramos longe demais, pequenos demais. Mas agora conseguimos isso. E esperamos pela ratificação do acordo.”

A jornalista viajou a convite do Fórum de Cooperação do Leste Asiático e América Latina (Fealac)

Singapura — Foto: Pixabay

Source link

Com o “tarifaço” de Trump, Singapura busca estreitar laços com outros blocos e países | Mundo
Acompanhe as últimas notícias e acontecimentos relevantes de cidades do Brasil e do mundo. Fique por dentro dos principais assuntos no Portal Voz do Sertão, aqui você vai ficar conectado com as notícias.

Deixe seu Comentário

Veja Mais Relacionadas

Nossos Produtos