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Como parar de me comparar com os outros? | Carreira no Divã

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“Sempre tive o costume de me comparar com colegas. Sei que isso não é saudável, mas não consigo evitar. Tenho medo de ficar para trás e acabo constantemente analisando a trajetória dos outros para entender se estou evoluindo profissionalmente. Por um lado, tenho a impressão de que isso me impulsiona para crescer. Mas, ultimamente, tenho me sentindo esgotado emocionalmente por conta desse hábito. Como aprender a confiar mais em mim e conseguir continuar evoluindo sem depender desse tipo de comparação?”

Gerente de inovação, 37 anos

Se você parar para pensar, perceberá que aprendemos cedo a nos comparar. Ainda crianças, usamos conhecidos e desconhecidos como referência, iniciando, sem perceber, um processo contínuo de autojulgamento. A partir dessas comparações, moldamos nossa identidade, definimos nosso valor, mudamos nossa aparência, moldamos nossos sonhos e estipulamos nossas conquistas.

Essa dinâmica é um processo inconsciente, operado automaticamente, do qual nem você nem ninguém tem controle. Mas, adivinhe, o que pode mudar completamente esse jogo? Decidir o que fazer com essa informação. Sim, a comparação é um dado, um insumo. E, como todo dado, pode ser usado de formas diferentes.

Na década de 1950, o psicólogo americano Leon Festinger apresentou a “Teoria da Comparação Social”, explicando que esse processo pode ser ascendente (quando percebemos que alguém é melhor do que nós em algum aspecto) ou descendente (quando nos vemos em posição superior).

Comparar-se com alguém melhor pode ser o estopim de uma transformação, pois nos faz correr atrás de habilidades e conhecimento. Eis o paradoxo das comparações. O problema é quando ela se torna crônica e, em vez de impulsionar, aprisiona. Quando, em vez de inspirar, corrói a autoestima e alimenta um ciclo destrutivo e disfuncional de ansiedade, insegurança e frustração.

Colunista diz que o problema da comparação é quando ela se torna crônica e, em vez de impulsionar, aprisiona — Foto: Unsplash

A Psicologia Positiva, que se dedica ao estudo do bem-estar, alerta: a comparação excessiva é um dos maiores riscos à felicidade. Ela é cruel porque distorce a percepção da realidade. Faz você medir seu bastidor — com todas as suas lutas e desafios — pelo palco dos outros, onde só as melhores cenas são exibidas.

Sair dessa armadilha exige, antes de tudo, acolhimento. Em tempos de redes sociais e expectativas infladas, é fácil sentir que estamos em dívida. Nunca somos suficientes, nunca fazemos o bastante, nunca atingimos o necessário — a conta simplesmente não fecha. E, justamente quando mais precisaríamos fortalecer nossa autoestima, somos bombardeados por narrativas que nos fazem sentir menores.

À medida que amadurecemos, ganhamos mais clareza sobre quem somos e sobre o que realmente importa. Isso reduz o impacto negativo da comparação. Para chegar lá, é preciso começar hoje. Como? Gerenciando melhor suas emoções, reconhecendo o seu próprio valor e fortalecendo a sua confiança. Tem coisas que ninguém pode fazer por você. Não dá para delegar nem terceirizar. Não tem amostra grátis nem download automático.

A comparação sempre existirá. Mas, em vez de ser uma armadilha, ela pode se transformar em um trampolim. Pode ser um sinalizador do que você quer conquistar — sem que isso signifique se diminuir no processo.

E vale lembrar: a comparação descendente também tem suas pegadinhas. Sentir-se superior pode limitar seu aprendizado, distorcer sua percepção de realidade e dificultar conexões genuínas, pautadas pelo respeito e pela empatia.

No fim das contas, o mundo seguirá repleto de distrações e tentações. Cabe a cada um lutar para preservar a saúde e manter o foco no que realmente importa. É preciso decidir: você é prisioneiro da comparação ou é capaz de transformá-la em ferramenta de crescimento?

Mariana Clark é psicóloga, especialista em saúde mental, perdas e luto no contexto organizacional e escolar.

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Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

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