Econômia

Protestos em Veneza têm Bezos como alvo em meio a queixas crescentes | Empresas

 Protesto contra o casamento de Jeff Bezos e Lauren Sánchez, em Veneza — Foto: Manuel Silvestri/Reuters

Turismo em massa, aluguéis impossivelmente altos, exploração de trabalhadores, desigualdade e elitismo: os protestos em Veneza nos últimos dias contra o badalado casamento de Jeff Bezos e Lauren Sánchez destacaram queixas globais cada vez maiores. Políticos locais classificaram os manifestantes como uma minoria marginal. A fama de Bezos e o cenário deslumbrante de Veneza lhes ofereceram visibilidade internacional, que eles souberam explorar. Faixas com os dizeres “Sem espaço para Bezos” penduradas na icônica Ponte de Rialto e uma enorme lona estendida na Praça São Marcos, pedindo ao bilionário da tecnologia que pague mais impostos, circularam pelo mundo.

Temores de distúrbios maiores forçaram Bezos e sua noiva a transferir a festa final — e mais estrelada — do distrito central para um local mais isolado na parte leste da laguna. “A ideia de que a cidade deve ser vista como um cenário, um palco ou um parque de diversões ficou mais evidente do que nunca com o casamento de Bezos”, disse à Reuters Tommaso Cacciari, porta‑voz do movimento nomeado No Space for Bezos (do inglês, sem espaço para Bezos).

No protesto final de sábado, cerca de 1.000 moradores e ativistas se reuniram em frente à estação de trem de Veneza sob sol escaldante, antes de marchar cerca de 1,5 quilômetro até a Ponte de Rialto. Eles levavam faixas como “Beijos sim, Bezos não”, fazendo alusão à fama de Veneza como cidade do amor, e outra com um foguete em referência à Blue Origin, empresa espacial do bilionário.

Comerciantes e políticos venezianos, porém, saudaram o evento, exaltando o grande impulso dado à economia local. Luca Zaia, governador do Vêneto (região onde fica Veneza), afirmou que a cidade deve se orgulhar de sediar o casamento.

Alice Bazzoli, estudante universitária de 24 anos, chamou Bezos de “hipócrita” por doar 3 milhões de euros a Veneza enquanto “inunda seu frágil ecossistema” com jatos e iates poluentes. Bezos e Sánchez destinaram 1 milhão de euros cada a três instituições venezianas: o consórcio acadêmico CORILA (que estuda a laguna), o escritório local da Unesco e a Venice International University.

“Eu gostaria que Veneza fosse voltada para os cidadãos, não para turistas, com moradias acessíveis”, disse Bazzoli à Reuters, reclamando de que os estudantes estão sendo expulsos do mercado imobiliário, já que os melhores alojamentos são oferecidos aos visitantes.

O cineasta veneziano Andrea Segre, de 49 anos, afirmou que a cidade também expulsa moradores comuns. “Pessoas de 25 a 35 anos — faixa etária que forma famílias — não conseguem viver em Veneza. O resultado é a falta de diversidade e de vitalidade social”, disse ele. Veneza está se despovoando rapidamente, em grande parte por causa do custo de vida; seu centro histórico tem hoje menos de 50.000 habitantes, contra mais de 100.000 há cerca de 50 anos.

A cidade já sediou inúmeros casamentos de celebridades — como o de George Clooney e Amal Alamuddin, em 2014 —, mas as recentes núpcias de luxo despertaram ressentimento maior por causa do papel corporativo e político de Bezos. O fundador da Amazon é o quarto homem mais rico do mundo e desenvolveu laços com o presidente dos EUA, Donald Trump; cujo a filha, Ivanka Trump, e o genro Jared Kushner compareceram ao casamento.

“Bezos é a personificação da riqueza absoluta obtida à custa da exploração de tudo ao redor”, disse à Reuters a estudante Giulia Cacopardo, de 28 anos, antes da marcha de sábado. Na Itália, a Amazon já enfrentou críticas e greves de sindicatos sobre práticas trabalhistas, além de escrutínio sobre o pagamento de impostos. A Reuters informou em fevereiro que promotores italianos investigam suposta evasão fiscal de 1,2 bilhão de euros.

“Eu teria protestado contra Bezos mesmo se ele tivesse chegado de barco a remo com meia dúzia de pessoas… porque ele contribuiu, de fato, material e politicamente, para a reeleição de Donald Trump”, afirmou o líder do protesto, Cacciari.

Jeff Bezos, fundador da Amazon, e Lauren Sanchez em lancha em Veneza, no terceiro dia de festas pelo seu casamento — Foto: Guglielmo Mangiapane/Reuters

Protestos em Veneza têm Bezos como alvo em meio a queixas crescentes | Empresas
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