Em contagem regressiva para o milésimo programa, Dan Stulbach, José Godoy e Teco Medina recebem a cineasta Iara Cardoso e o neurocientista Miguel Nicolelis. Eles falam sobre o filme “Nada mais será como antes”, adaptação cinematográfica do livro do neurocientista, com estreia prevista para 2027. “Nada mais será como antes” será o primeiro filme brasileiro de hard science fiction – subgênero que une narrativa ficcional a um sólido embasamento científico. O longa terá roteiro e direção de Iara Cardoso e explora o conceito de redes de cérebros interligados.
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Iara destaca que, apesar de ser do gênero ficção científica, o livro conversa bastante com a nossa realidade.
Acho que o livro, quando foi publicado, era pra ser a primeira ficção e acabou sendo um livro que é ficção, mas que tá muito realmente na nossa realidade. A gente enxerga muitas das coisas, muitos dos trechos do livro, na atualidade. O livro é de 2036, mas a atualidade já está caminhando, a gente tem alguns momentos ali que realmente parece um documentário.
Já Miguel compartilha como a ideia do livro surgiu, ainda no contexto pandêmico. Ele conta que queria colocar no papel as angústias de um cientista em meio a uma crise sanitária como a que vivemos e escreveu o livro, então, acessível a qualquer pessoa, não apenas a neurocientistas -isto é, não sendo uma obra técnica.
“Eu comecei a escrever o livro um pouco antes da pandemia. Senti que existiam várias crises existenciais no horizonte (…). Pensei em escrever onde eu pudesse literalmente contar quais são as angústias de um cientista no meio de uma pandemia. Escrevi esse livro como uma tentativa de mostrar que tudo aquilo que nos trouxe aqui, como uma espécie que conseguiu dominar o planeta inteiro, por bem ou por mal. Curiosamente, eu consegui colocar no livro toda a minha visão neurocientífica, porque eu trabalho há 40 anos nisso, e as pessoas gostaram”, diz. “É um livro que qualquer pessoa pode ler e que permite observar o que realmente pode ser feito para evitar que nós nos transformemos em meros zumbis digitais.”
A cineasta observa que os ventos sopram a favor dos filmes de ficção científica embasados de fato na científica, sobretudo por gerar engajamento e conexão profunda com o público.
“Estamos em um momento de fazer filme de ficção científica no Brasil. Uma ficção científica com base na ciência. Não uma ficção científica distópica, que não tem nada a ver com o que a gente está vivendo, porque até porque esse tipo de distopia, ela não gera uma conexão tão profunda com as pessoas. Vários estudos mostram que quando você traz uma ficção que tem essa base científica, que tem uma base, por exemplo, ligada a mudanças climáticas, a gente gera um engajamento e consegue mudar um pouco o mundo. Essa é a grande proposta desse projeto: poder de chegar a corações e mentes e mudar um pouco do que a gente está vivendo hoje.”
O neurocientista pontua que a obra buscou revelar a visão que se tem da tecnologia. Ele conta que, diferente do que muitos pensam, o cérebro, na verdade, vê a tecnologia como expansão do senso de ser.
“As pessoas perderam a noção de que toda tecnologia e todas as ferramentas que o ser humano criou desde a pré-história são produtos da mente humana. que quando eles começam a ser usados pela gente, eles são literalmente incorporados pelo cérebro como uma extensão do nosso corpo. E hoje em dia, o mundo digital está sendo incorporado. Só que o cérebro humano não é digital, e isso foi esquecido. A minha ideia foi mostrar que a visão que nós temos de tecnologia, como acabamos de ouvir, envolvendo dinheiro, poder, dominação, a visão ideológica tecnocrata, não é a forma como o cérebro vê a tecnologia. O cérebro vê a tecnologia como uma expansão do senso de ser. Nós criamos coisas. Não é o oposto.”
Iara Cardoso fará sua estreia no gênero ficcional, com a consultoria científica de Miguel Nicolelis. A ideia da obra, proposta por Nicolelis, aponta para uma nova forma de colaboração e tomada de decisão coletiva, abrindo caminho para reflexões éticas e sociais profundas sobre os rumos da vida no planeta.
A trama segue um matemático e uma neurocientista, tio e sobrinha, que precisam enfrentar uma ameaça cataclísmica iminente, intensificada pela crise ambiental global e uma conspiração internacional que busca controlar as mentes e os destinos da humanidade.
Entre as principais referências do gênero está o aclamado Interstellar (2014), dirigido por Christopher Nolan, que contou com rigorosa consultoria científica do físico ganhador do Nobel Kip Thorne. No filme Interstellar, a humanidade parte em busca de um novo planeta habitável, explorando exoplanetas fora do sistema solar, como última esperança de sobrevivência diante do colapso ambiental da Terra
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