BRASÍLIA e SÃO PAULO – Em nova manifestação contra o uso de máscaras, o presidente Jair Bolsonaro ofendeu uma jornalista que o questionou sobre o uso da proteção em evento em Guaratinguetá (SP), nesta segunda-feira, 21. Bolsonaro mandou a profissional “calar a boca” e a acusou de ser “canalha” por chamar a atenção ao fato de o presidente da República descumprir a lei ao não utilizar o item, considerado por autoridades de saúde como forma eficaz de se evitar a transmissão da covid-19.
“Eu chego como eu quiser onde eu quiser, está certo? Eu cuido da minha vida. Se você não quiser usar máscara, você não use”, disse “Estou sem máscara em Guaratinguetá. Está feliz agora?”, questionou Bolsonaro, dirigindo-se à repórter da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo. O presidente estava em Guaratinguetá nesta segunda-feira para acompanhar solenidade de promoção da Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAR). Na ocasião, ao chegar ao local, não usava máscara.
Na entrevista após o evento, já com a proteção, Bolsonaro se irritou quando uma jornalista da TV Vanguarda tentou questioná-lo sobre a multa que ele recebeu por não utilizar máscara durante a participação em uma motociata em São Paulo, no último dia 12.
O presidente interrompeu a repórter e pediu que fizessem “perguntas decentes”. Em seguida, insultou a profissional. “Cale a boca, vocês são uns canalhas. Vocês fazem um jornalismo canalha, que não ajuda em nada. Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião brasileira, vocês não prestam”, disse à jornalista após questionar de qual veículo ela era. Enquanto falava, exaltado, retirou a máscara. O gesto foi seguido pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que o acompanhava no evento.
Esta não é a primeira vez que Bolsonaro se manifesta contra o uso da proteção. Em uma “live” em fevereiro, citou um “estudo alemão” para reclamar de “efeitos colaterais” do uso de máscaras contra a covid-19, criando desinformação sobre o assunto. O tal “estudo” é uma análise de pouco rigor científico e incapaz de comprovar relação com os problemas mencionados em crianças. O artigo também não foi revisado por pares, nem publicado em revistas científicas.
No dia 10, em nova ofensiva contra a proteção, disse ter pedido ao Ministério da Saúde parecer desobrigando pessoas vacinadas ou que já tenham sido contaminadas a usarem máscaras. Diante da repercussão negativa, Bolsonaro ajustou o discurso e disse que quem decidirá sobre a questão serão prefeitos e governadores.
Dois dias depois de o País superar a marca de 500 mil mortes por covid-19, Bolsonaro afirmou, após ser questionado, lamentar a marca, mas voltou a defender o tratamento com medicamentos sem eficácia contra a doença. “É a primeira vez na história que se busca atender as pessoas depois que estão hospitalizadas.”
No fim de semana, os chefes do Judiciário e do Legislativo, assim como alguns ministros, divulgaram notas com condolências às famílias das vítimas. O chefe do Executivo, no entanto, não havia dado nenhuma declaração.
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