Longe de serem apenas mais uma das linhas de investigação da CPI da Covid, denúncias envolvendo processos de compra de vacinas dominarão nesta semana toda a agenda da comissão em Brasília. A partir de amanhã, serão ouvidos pelo grupo diversos gestores do Ministério da Saúde ou de empresas que intermediaram as compras sob suspeita.
As oitivas ajudam a “fechar o cerco” da comissão sobre os processos em investigação, que viraram principal matéria para os trabalhos dos senadores. Nesta semana, serão ouvidas pessoas ligadas sobretudo a negociações de duas vacinas: a indiana Covaxin e a inglesa AstraZeneca.
Na agenda desta terça-feira, 13, por exemplo, será ouvida Emanuelle Medrades, diretora técnica da Precisa Medicamentos. A empresa teria intermediado contrato de R$ 1,6 bilhão assinado pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) para a compra da vacina indiana Covaxin, que teve indícios de fraude revelados pelo servidor da Saúde Luis Ricardo Miranda.
Na quarta-feira, 14, a comissão virará atenção para outro processo sob suspeita, com depoimento do reverendo Amilton Gomes de Paula. Ele é acusado de ter “aberto as portas” do Ministério da Saúde para representantes da Davati Medical Supply, empresa acusada de negociar contrato com cobrança de propina de US$ 1 por dose da vacina AstraZeneca.
A propina teria sido cobrada ao policial militar Luiz Dominguetti pelo ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, durante um jantar em um restaurante em Brasília. Na ocasião, Dominguetti dizia representar a Davati Medical Supply no Brasil. A empresa, no entanto, contesta a versão e nega relação com o acusado.
Por conta desse encontro de versões, está marcado para quinta-feira, 15, depoimento de Cristiano Carvalho, representante oficial da Davati no Brasil. Encerrando a semana, a CPI da Covid ouvirá na sexta-feira, 16, o coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde que teria aberto, segundo os senadores, uma empresa em Brasília três dias antes do jantar marcado pela suposta oferta de propina para a compra de doses da AstraZeneca.
O depoimento mais aguardado deve ocorrer apenas na próxima semana, em 20 de julho, quando a CPI ouvirá o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR). Ex-ministro da Saúde de Michel Temer (MDB), Barros é apontado como homem de influência na pasta e é citado em diversas suspeitas de fraudes na compra de vacinas.
Ricardo Barros seria, segundo relatos de denunciantes, o “avalizador” de diversas indicações na pasta, incluindo Roberto Dias, exonerado após o escândalo vir à público. Além disso, Barros é autor de uma emenda parlamentar que facilitou a compra de vacinas estrangeiras, sobretudo no caso da indiana Covaxin.
Rejeitando todas as acusações, Barros tem destacado reiteradamente que possui interesse em prestar depoimento à CPI. Na semana passada, ele chegou a entrar com pedido na Justiça para evitar um adiamento da oitiva.
Além dos depoimentos, a CPI também começará a avaliar documentos do Ministério da Saúde ligados às negociações investigadas. Na última sexta-feira, 9, chegaram ao grupo documentos relativos à contratação da vacina indiana Covaxin, após diversas reclamações de senadores pela demora da chegada dos dados.
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