O nascimento do primeiro filho da cearense Natasha de Lima Dias, 28 anos, veio antes do esperado. Felipe Gabriel nasceu dia 24 de julho de 2018, com apenas 23 semanas de gestação, o equivalente a cinco meses. De lá para cá, ele passou 10 meses internado em Unidades de Tratamento de Intensivo (UTI) de Fortaleza. A rotina de hospitais terminou no último dia 13 de maio.
Era apenas a 22ª semana de gravidez quando Natasha chegou ao Hospital Geral Dr. César Cals com fortes dores e descobriu que estava em trabalho de parto. “Cheguei no hospital, esperei algumas horas e consegui um leito de internação. Eles começaram a me dar remédio para impedir o nascimento, para tentar que ele ficasse na minha barriga o maior tempo possível. Isso durou uma semana. Quando chegou na 23ª eu já estava sem líquido e correndo risco de vida, além do meu bebê, aí comecei a fazer força e nasceu”, conta.
De acordo com mãe de Gabriel, que era doceira e precisou deixar a profissão para se dedicar integralmente aos cuidados do filho, a jornada foi, e segue sendo, de muita resiliência. “Foi uma luta intensa. Dez meses de muita coisa passada na cabeça. Cada dia que passava era uma vitória enquanto ele foi vencendo as infecções e tudo mais. O apoio da família e das equipes dos hospitais foi essencial para gente enfrentar essa fase. A gente ia lutando um dia de cada vez, né?”, relembra, emocionada.
Resistência
Nas primeiras horas Natasha já teve de encarar uma realidade difícil. A equipe médica dizia que a chance da criança sobreviver era muito difícil: “Me disseram que era inviável a chance dele sobreviver. Eles não tinham esperança, porque ele era muito pequeno”, relata. Só no Dr. César Cals, foram 8 meses na UTI e uma cirurgia de hérnia. Os outros dois meses foram no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), e com uma vaga conseguida apenas por meio de um processo na Justiça cearense.
Mas esse momento também foi de muito aprendizado e amor cultivado, principalmente com a família e com a equipe dos hospitais. “A equipe médica foi muito maravilhosa. Foram médicos que lutaram junto comigo pela vida dele e foram essenciais pra ele estar aqui hoje. Eu agradeço também a ajuda de Deus”, comenta Natasha.
Saúde
Felipe Gabriel é um dos 15.464 nascidos de uma gestação pré-termo no Ceará no ano passado, de acordo com dados obtidos pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) e compilados pelo Datasus. Este número representa 11,8% de todos os nascidos vivos em solo cearense em 2018.
O número é alarmante no que concerne a saúde destas crianças, que vem ao mundo com a saúde mais fragilizada do que os nascidos de gestações no termo, ou seja, em tempo “normal”. O tempo ideal de uma gestação é entre 37 e 41 semanas. A prematuridade acontece quando o bebê nasce abaixo de 36 semanas.
No caso de Gabriel, há ainda uma classificação mais específica, segundo a pediatra neonatologista Rafaela Loiola. Ele nasceu de uma gestação pré-termo extrema, que ocorre até às 28 semanas. “Todo pré-maturo vai ter a imunidade menor. Eles recebem apenas anticorpos da mãe. Por serem mais frágeis, eles vão ter a imunidade menor e serão mais propensos a infecções, doenças específicas, problemas de pulmão e além disso, quanto menor o bebê, menor será a coordenação da deglutição dele. Eles tem que se alimentar com sonda e depois ir treinando a deglutição.”
É o que aconteceu com Gabriel, que fez uma traqueostomia para se alimentar com a sonda, o que acontece até os dias atuais. Em casa, os cuidados especiais ainda são necessários: “Estamos lutando para retirar a traqueostomia e continuamos indo fazer o acompanhamento no Albert Sabin”, conta Natasha.
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