RIO – O governador da Bahia, Rui Costa (PT), voltou a comentar nesta terça-feira sua ausência na inauguração do Aeroporto de Vitória da Conquista e não poupou críticas ao presidente Jair Bolsonaro , que viaja neste momento para participar do evento. Em entrevista à “Rádio Metrópole”, ele lamentou o fato de Bolsonaro ter, em sua opinião, “ódio pelo nordestino e ódio pelo povo baiano.
– Infelizmente temos um presidente que odeia o povo do Nordeste, odeia o povo baiano – afirmou ao final da entrevista. ( Assista à entrevista abaixo )
Ele voltou a dizer que se sentiu agredido com a fala de Bolsonaro e disse ter “orgulho de ser nordestino”. Para ele, é preciso respeitar as diferenças para representar todo o povo brasileiro e governador para todos. “São ofensas seguidas ao povo nordestino, um verdadeiro estímulo ao racismo”, afirmou em referência à frase polêmica de Bolsonaro.
Na sexta-feira, microfones da TV Brasil captaram trecho de conversa reservada do presidente com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante café da manhã com jornalistas da imprensa estrangeira. “Daqueles governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão; tem que ter nada com esse cara” , afirmou ele ao aliado.
Costa disse que há duas semanas marcou a data para inauguração do aeroporto e resolveu ligar para o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, para convidar o governo federal a participar do evento como um gesto de aproximação e uma cultura de paz entre os políticos.
– Eu disse ao ministro que, apesar do atual governo não ter tido a oportunidade de contribuir com a obra, pelo fato dela estar pronta desde dezembro, gostaria de convidar o ente federal por ter financiado parte da obra. Ele confirmou presença e ficou de me dizer quem seriam os outros participantes – afirmou.
“Meu sentimento é de perplexidade. Eu nunca imaginei na minha vida de ter alguém sentado na cadeira de presidente e os seus assessores ao redor com um nível tão baixo”RUI COSTA (PT), GOVERNADOR DA BAHIAEntrevista à Rádio Metrópole
No entanto, o governador disse ter sido informado pela imprensa que a Presidência já estava se preparando para inauguração da obra. Ele então ligou para o ministro da Infraestrutura, que teria se desculpado por sua “falha” em não tê-lo avisado.
– Disse a ele que estava com um sentimento de descortesia. Tem uma confusão aí, quem convidou o governo federal fui eu, quem está organizando o evento de inauguração do aeroporto sou eu. O aeroporto está escriturado em nome do povo da Bahia. A obra foi tocada pelo estado da Bahia, não é municipal, nem federal, é estadual – disse.
Costa ainda reclamou do comportamento do cerimonial, que teria sido grosseiro com o seu pessoal:
– Para surpresa nossa, chega o cerimonial na sexta-feira de forma rude, grosseira, deselegante e diz e disse que o evento não era estadual e sim federal. Portanto, não teria participação da população e que seria fechado, pois o presidente não participa de evento aberto. Disseram ainda que só haveria 300 cadeiras num local fechado e o estado só teria 70 credenciais – concluiu.
Costa diz que tentou ainda sugerir ao general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, no domingo, que o evento fosse feiro em duas etapas para inauguração, um com a presença do presidente, e depois que ele decolasse, ele abriria o ato para o povo. O que, segundo o governador, não foi aceito.
– Meu sentimento é de perplexidade. Eu nunca imaginei na minha vida de ter alguém sentado na cadeira de presidente e os seus assessores ao redor com um nível tão baixo, com um despreparo tão grande, com tão pouco compromisso com a nação, um país. Uma nação é feita do povo. Quem senta na cadeira de governador ou presidente tem que respeitar as diferenças.
Ao anunciar a partida de Brasília até Vitória da Conquista, na Bahia, pelo Twitter, Bolsonaro disse que Costa não autorizou a presença da Polícia Militar para a sua segurança no local .
‘Agressões ao povo’
Na tarde de segunda-feira, Costa anunciou que não iria à inauguração do aeroporto . Ele alegou que o governo federal quer fazer “uma inauguração restrita a poucas pessoas, escolhidas a dedo, como se fosse uma convenção político-partidária”. O governador também criticou “agressões ao povo do Nordeste e ao povo da Bahia”.
— Exercitando a boa educação que aprendi, convidei o governo federal a se fazer presente no ato de inauguração, nesta grande festa. Infelizmente, confundiram a boa educação com covardia, e desde então, temos presenciado agressões ao povo do Nordeste e ao povo da Bahia. A medida anunciada é excluir o povo da inauguração, fazer uma inauguração restrita a poucas pessoas, escolhidas a dedo, como se fosse uma convenção político-partidária. Não posso concordar com isso. Por isso, não vou comparecer à inauguração do aeroporto que o povo da Bahia construiu, que o governo do estado construiu — disse Rui Costa, em vídeo divulgado por sua assessoria.
Deixe seu Comentário