Noite atípica em Independência. A calmaria da cidade localizada a 300 km de Fortaleza foi interrompida com o episódio de uma jovem tentando se jogar da torre de telefonia da cidade,mais de onze horas da noite. Estava a uma altura de cinco andares. Gritos de histeria, curiosos aglomerados. Definitivamente, não era uma noite normal.
Multidão se aglomera em volta da torre de onde jovem queria pular. Foto: via whatsapp
O servidor público Fábio Marques acompanhou toda a história. “Uma pessoa chegou perto de mim e disse ‘tio é fulana, ela tem 14 anos’ [preservaremos a identidade da jovem]“, pontua Fábio. Ninguém fazia nada. Uma vez ou outra uma pequena discussão com a mãe, mas sem resultado algum. Quando o relógio ultrapassou a marca meia noite chega um rapazinho magrinho e grita o nome dela.
Padre Aurenilson Carvalho, após receber o pedido de socorro dos jovens, foi ao encontro da moça que tentava suicídio. Foto: via whatsapp
“Era o padre de minha paróquia”, enfatiza Fábio.
Padre Aurenilson Carvalho tem de 38 anos idade e quase 3 anos de padre. “Eu já estava para dormir quando recebi algumas mensagensinsistentes de jovens do nosso Encontro com Cristo. Quando abri, vi que era um pedido de socorro e contaram-me sobre a jovem”, explica o sacerdote ao Blog Ancoradouro.
Resoluto, o padre foi ao local. Após chamar pelo nome da moça passou a falar com ela ao telefone. “Foi quase meia hora de conversa“, conta. O padre praticamente escutou a pessoa que revelou seu drama familiar. “À medida que fui ganhando confiança, a jovem foi descendo aos poucos da torre”, relata o sacerdote.
Quando a jovem desceu do local, umnovo problema. Ninguém queria subir o muro, protegido com arame, que ela havia subido para cumprir o intendo suicida. O padre subiu. “Fui descendo o muro bem devagar, vi que ela queria mais uma vez subir na torre, foi quando a tomei e a impedi que fizesse. Dois jovens que inspirados pelo padre também escalaram o muro ajudaram o sacerdote a resgatar a moça que foi medicada e encaminhada ao hospital.
Padre negociando com a jovem ao telefone.
“Praticamente a escutei”, conta o sacerdote.
À medida que foi ganhando confiança, a jovem foi descendo da torre.
O gesto do padre, nas vésperas de Natal, inspirou aquela população. “Fui à Igreja matriz agradecer a Deus”, conta Fábio. “Quando saí, já era mais uma hora da madrugada, fui ao hospital por curiosidade e vi que o carro da casa paroquial estava estacionado lá, por certo era o padre que ainda estava acompanhando a família”, relembra o servidor público.
E estava, ele e alguns jovens que nem conheciam aquela jovem, mas foram contagiados pela doação do sacerdote. Padre Aurenilson minimiza a fama de herói que lhe outorgaram após o episódio. “Qualquer um poderia fazer aquilo”, avalia. Fábio entende que é uma história que precisa correr o mundo, “pois quando o padre erra se torna notícia que corre rápido”, compara.
Ninguém queria subir, o padre foi e escalou o muro.
Escalou o muro protegido por arames.
Com muito cuidado continuava a conversa com a jovem.
Mayara Sousa não estava no momento, mas ficou sabendo de tudo. “Faltam palavras para expressar o que sentimos através da atitude do padre. Eu o vejo não apenas como padre, mas como pai. Ele tem uma paternidade que nos cativa. No local estavam os familiares, policiais, mas foi ao padre a quem ela escutou, através de uma simples conversa”, testemunha.
Padre Aurenilson reforça a participação de pelo menos oito jovens que se envolveram naquele momento, da ligação que foi feita a ele para avisá-lo ao resgate em si, alguns até se ferindo um pouco na escalada do muro. “Quando fazemos o bem acabamos motivando outras pessoas”, finaliza o sacerdote, que se tornou ainda mais amado por aquela população.
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