O fenômeno da erosão costeira pode ocorrer de forma natural, mas com o aumento das mudanças climáticas, a degradação passou a ocorrer de maneira mais intensa e agressiva, afetando o meio ambiente e a infraestrutura humana.
O professor de silvicultura Lamartine Soares Cardoso de Oliveira*, da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca a responsabilidade do homem nesse processo.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, Lamartine cita as consequências para as cidades, apontando formas de prevenção. A curto prazo, por exemplo, o docente ressalta a importância da construção de barreiras físicas e reposição de areia.
O que é erosão costeira?
A erosão costeira consiste no fenômeno em que o mar “consome” a terra da costa. Com isso, a força das ondas, das correntes e do vento é capaz de realizar o desgaste de areia, rochas e vegetação. Além disso, também consegue degradar construções humanas como casas e outros estabelecimentos.
Quais as causas?
Lamartine detalhou que existe uma diferença entre a degradação natural em áreas conversadas e a degradação natural em áreas modificadas pelo homem.
“Um ambiente natural e conservado, ao sofrer uma degradação natural, tende a absorver o impacto sem sofrer mudanças drásticas, ajustando-se aos seus processos ecológicos. Isso ocorre porque esses ambientes têm anos de adaptação e evolução diante dos fatores ou agentes de degradação natural”, afirma.
Dentre as causas naturais, estão:
- Movimentos constantes das ondas;
- Períodos chuvosos intensos;
- Altas das marés e dos ventos.
No entanto, esses agentes naturais estão sendo mais intensos devido à crise climática e a ação dos homens.
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Lamartine aponta que a modificação do ambiente pelo ser humano — que remove a vegetação nativa e modifica o ecossistema — é a principal causa da erosão costeira. São exemplos de outros fatores:
- Construção de infraestrutura, dragagem e mineração;
- Mudanças no curso dos rios, que causa alterações no ciclo natural de sedimentos que chegam à costa.
Consequências da erosão para as cidades
A erosão costeira está relacionada com a redução da faixa de areia das cidades litorâneas e a perda de cobertura vegetal e habitats naturais, afetando a biodiversidade de uma região.
A população, por sua vez, pode perceber a destruição da infraestrutura próxima da costa, assim como a redução do potencial turístico. Outros fatores enfrentados são: o aumento das inundações e a intrusão salina nos aquíferos.
Quais exemplos de erosão costeira no Ceará?
O Ceará é um estado que apresenta 47% da linha de costa sob processo erosivo, conforme dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O relatório detalha que alguns fatores influenciam esse cenário, como o aquecimento global e o aumento do nível do mar.
Ao todo, 18 dos 20 municípios costeiros do Ceará apresentam algum risco de erosão em suas praias. No entanto, dois casos se destacam:
Enquanto Beberibe tem 45% da costa ameaçada, Cascavel registra 34%, segundo um estudo do Programa Cientista-Chefe Erosão Costeira, da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) em parceria com a Secretaria da Infraestrutura (Seinfra).
Erosão costeira no Brasil
No Brasil, a erosão costeira é um fenômeno que atinge praias de diferentes regiões, evidenciado pelo recuo da linha de costa.
Um dos casos mais conhecidos é o da praia de Atafona, no distrito de São João da Barra, no Rio de Janeiro. Na cidade, mais de 500 construções já foram atingidas.
Além disso, também foram notificadas ocorrências em:
- Ilhéus, na Bahia;
- Macaé, no Rio de Janeiro;
- Ponta do Seixas, em João Pessoa, na Paraíba.
Como prevenir casos de erosão costeira?
O especialista Lamartine pondera que, para evitar a erosão, é necessário reduzir as atividades humanas em ecossistemas costeiros.
“Nas áreas com alto nível de modificações causadas pelo homem, como as zonas litorâneas urbanas, é necessário implementar ações de resposta a longo prazo com sustentabilidade ambiental, combinadas com ações de resposta imediata, embora estas últimas tenham baixa durabilidade”.
Dentre as ações que podem ser realizadas, estão:
- Longo prazo: Recuperação e restauração ambiental, com reintrodução das espécies nativas;
- Curto prazo: Construção de barreiras físicas e reposição de areia.
No Ceará, o que está sendo feito para controlar a erosão costeira?
Em reportagem do Diário do Nordeste sobre erosão costeira, o doutor em Ciências do Mar, Davis de Paula, havia detalhado a elaboração de um Plano de Contingência de Erosão Costeira.
O planejamento estava sendo organizado pelo Programa Cientista-Chefe da Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema), no qual Davis faz parte. O objetivo é criar um produtor para nortear os agentes responsáveis em atenuar, trabalhar e estudar os problemas costeiros no Ceará.
*Lamartine Soares Cardoso de Oliveira, professor de silvicultura, assessor técnico em manejo da arborização e coordenador da Secretaria do Meio Ambiente da Universidade Federal do Ceará (UFC). Doutor em Ciências Florestais pela Universidade de Brasília.
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