Por Juliette Collen
(Folhapress) – O telescópio espacial europeu Gaia, devotado à cartografia da Via Láctea, levou à invenção de um buraco preto cuja volume representa 33 vezes a do Sol. Isso é um pouco não visto em nossa galáxia, segundo estudo publicado nesta terça-feira (16).
O objeto, batizado de Gaia BH3 e situado a 2.000 anos-luz da Terreno, na constelação de Águia, pertence à família dos buracos negros estelares que surgem da colisão de estrelas massivas mortas.
São muito menores que os buracos negros de enorme volume situados no coração das galáxias, dos quais processo de formação é incógnito.
A invenção de Gaia BH3 se deu “por possibilidade”, disse à AFP Pasquale Panuzzo, pesquisador do instituto CNRS no Observatório de Paris-PSL e principal responsável do trabalho publicado na Astronomy & Astrophysics Letters.
Os cientistas do consórcio Gaia estavam analisando os dados mais recentes da sonda, com o objetivo de publicar o próximo catálogo em 2025, quando encontraram um sistema estelar binário específico.
“Vimos uma estrela um pouco menor que o Sol (75% de sua volume) e mais pomposo, que girava ao volta de um companheiro invisível”, o que podia se inferir pelas perturbações que ela causou, afirmou Panuzzo, responsável anexo do tratamento espectroscópico de Gaia.
O telescópio espacial dá a posição precisa das estrelas no firmamento e os astrônomos conseguiram categorizar as órbitas e medir a volume do companheiro invisível da estrela: 33 vezes a do Sol.
Observações mais avançadas de telescópios em terreno confirmaram que se tratava de um buraco preto, de uma volume muito mais importante que a dos buracos negros de origem estelar já conhecidos na Via Láctea, entre 10 e 20 massas solares.
Esses gigantes já foram detectados nas galáxias distantes, por meio das ondas gravitacionais. Mas nunca na nossa, de entendimento com Panuzzo.

Imagem com localização do buraco preto Gaia BH3
Buraco preto letargo
Gaia BH3 é um buraco preto “letargo”: está muito longe de sua estrela companheira para tirar material dela e não emite, por isso, nenhum relâmpago X, o que torna sua detecção muito difícil.
O telescópio Gaia conseguiu deslindar os dois primeiros buracos negros inativos (Gaia BH1 e Gaia BH2) da Via Láctea, mas esses possuem massas-padrão.
Diferentemente do Sol, a pequena estrela do sistema binário de BH3 é muito pobre em elementos mais pesados que o hidrogênio e o hélio, explicou o Observatório de Paris em um enviado. “Segundo a teoria, somente as estrelas pobres em metais podem formar um buraco preto de volume tão grande”, aponta Panuzzo. O estudo sugere portanto que o “progenitor” do buraco preto era uma estrela massiva também pobre em metais.
A estrela do sistema, de 12 bilhões de anos, envelhece muito lentamente, enquanto a que formou o buraco preto viveu somente 3 milhões de anos, acrescenta ele.
“Essas estrelas pobres em metais estavam muito presentes no início da galáxia. Seu estudo nos dá informações sobre sua formação.”
Outra curiosidade do par estelar é que o disco da Via Láctea gira em sentido contrário ao das outras estrelas. “Talvez porque o buraco preto se formou em outra galáxia menor que foi devorada no início da vida da Via Láctea”, acrescenta.
A sonda Gaia da Sucursal Espacial Europeia (ESA), que opera a 1,5 milhão de quilômetros da Terreno há 10 anos, forneceu em 2022 um planta em terceira dimensão das posições e movimentos de mais de 1,8 bilhão de estrelas.
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