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Uma poesia de Manoel de Barros, com seu olhar generoso sobre as miudezas

Nesta seção, o portal ICL Notícias vai resgatar textos, imagens e sons que façam o leitor dar uma pausa na marcha imediata e angustiante dos fatos, para refletir com autores geniais, tanto do Brasil quanto de outros países.

Hoje, publicamos uma trova do quebradiço Manoel de Barros, com sua visão generosa sobre a miudezas do mundo. O texto faz secção da obra lançada em 1996 e relançada depois pela editora Alfaguara, “Livro sobre o zero”, mesmo título da trova.

 

O LIVRO SOBRE O NADA

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não proferir zero, mas só a trova é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei pra me saber foi fazendo o contrário.
Sou muito prestes de conflitos.
Não pode ter pouquidade de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Melhor que nomear é mencionar. Verso não precisa dar noção.
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.
Sábio é o que adivinhação.
Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.
Estilo é um protótipo irregular de sentença: é estigma.
Peixe não tem honras nem horizontes.
Sempre que libido recontar alguma coisa, não faço zero; mas quando não libido recontar zero, faço trova.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem desvelo.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma termo abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a termo que sirva na boca dos passarinhos.
Esta tarefa de parar é que puxa minhas frases para antes de mim.
Ímpio é uma pessoa capaz de provar cientificamente que não é zero. Só se compara aos santos. Os santos querem ser os vermes de Deus.
Melhor para chegar a zero é desenredar a verdade.
O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Por pudor sou impuro.
O branco me corrompe.
Não paladar de termo acostumada.
A minha diferença é sempre menos.
Termo poética tem que chegar ao intensidade de brinquedo para ser séria.
Não preciso do término para chegar.
Do lugar onde estou já fui embora.

 

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“Manoel de Barros foi um poeta mato-grossense, nascido em 19 de dezembro de 1916, na cidade de Cuiabá. Posteriormente receber uma herdade do pai, uma vez que legado, se tornou quinteiro no Pantanal. Mas, antes, morou no Rio de Janeiro, onde fez faculdade de Recta. A nomeada uma vez que redactor chegou tarde, nos anos 1980.

O responsável morreu em 13 de novembro de 2014, em Campo Grande. E deixou livros apreciados tanto pelo leitor geral quanto pela sátira acadêmica. Em vida, o poeta também recebeu prêmios literários, uma vez que o Jabuti. Suas obras apresentam neologismos, fragmentação e traços autobiográficos.” (Manancial: Brasil Escola)

Uma poesia de Manoel de Barros, com seu olhar generoso sobre as miudezas
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