Análise Política

Governo distribui cargos para evitar vitória bolsonarista no Senado

O governo acelerou ontem a nomeação para cargos na tentativa de angariar votos que levem à reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), hoje, para a presidência do Senado. Cresceu nos últimos dias o temor real de uma vitória do bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN), especialmente após anúncios de apoio a ele de senadores de partidos que integram a base do governo, como o União Brasil, e do próprio PSD de Pacheco. Um exemplo é Efraim Filho (União-PB), oficialmente indeciso, que emplacou um apadrinhado na superintendência dos Correios na Paraíba e agora aparece na conta como eleitor de Pacheco. Já Irajá Abreu (PSD-TO) tem a promessa da nomeação de um indicado para a Codevasf nos próximos dias. (Globo)

Ontem… Pacheco amargou a dissidência de três colegas de bancada, inclusive o líder de seu partido na Casa, Nelsinho Trad (MS). Ele, Lucas Barreto (AP) e Samuel Araújo (RO) anunciaram apoio a Marinho. Em compensação, o MDB e o presidente do partido, Baleia Rossi, fizeram uma reunião com Pacheco para formalizar apoio. (Veja)

Reduzido a três senadores, o PSDB declarou ontem seu apoio a Marinho, o que provocou reação entre tucanos mineiros, como Aécio Neves e Paulo Abi-Ackel. Sérgio Moro (UB-PR), que debuta amanhã no Senado, também declarou volto no bolsonarista, embora o partido de Marinho, o PL, esteja tentando cassar seu mandato no TRE paranaense. (Folha e Veja)

Há preocupação no governo até com o tamanho de uma derrota de Marinho, conta Guilherme Amado. A avaliação é de que, caso ele consiga algo em torno de 35 votos, será uma demonstração da força da oposição que não poderá ser ignorada pela direção do Senado. O STF tem um temor semelhante. Segundo Malu Gaspar, os ministros creem que uma votação expressiva de Marinho dará ímpeto ao bolsonarismo para se movimentar contra o Supremo. (Metrópoles e Globo)

Coluna do Estadão: “Independentemente do resultado, Marinho se cacifou como um dos nomes que devem liderar a oposição ao governo Lula. A dúvida entre senadores, porém, é sobre qual versão dele vai prevalecer: se o alinhado aos radicais bolsonaristas, apostando no confronto institucional, ou se o mais próximo do Centrão, do ‘PL raiz’.” (Estadão)

Vera Magalhães: “Caso haja uma zebra e Marinho vença Pacheco, haverá um enclave bolsonarista na Praça dos Três Poderes, e os golpistas de 8 de Janeiro terão conseguido, quase um mês depois, perenizar a ocupação que tentaram fazer à base de vandalismo e afronta às instituições.” (Globo)

A negociação de cargos na Câmara e no Senado é um exemplo clássico de realpolitik. Pode não ser bonito de ver, mas a divisão de poder e a acomodação de interesses são parte fundamental do jogo democrático, conforme analisa Flávia Tavares no Cá Entre Nós. (YouTube)

O bolsonarismo busca, na eleição do Senado, garantir uma sobrevida. A candidatura de Rogério Marinho é mais uma demonstração de como os bolsonaristas estão acuados do que o contrário. Esta é a análise que o cientista político Christian Lynch faz. A disputa no Congresso nesta quarta-feira é, ao mesmo tempo, um teste à capacidade do novo governo de se relacionar com o Legislativo e um esforço de sobrevivência política do bolsonarismo em um cenário cada vez mais desfavorável.

Governo distribui cargos para evitar vitória bolsonarista no Senado
Professor, Analista de Sistema, Matemático e Blogueiro por paixão. Gosto de escrever, ler bastante e de está sempre aprendendo algo novo, nunca é demais o aprendizado, leva uma vida toda.

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