Bruna Linzmeyer, Diego Martins, Rodrigo Simas, Johnny Hooker, entre outros artistas e influenciadores, falam sobre preconceito e a importância da data A diversidade está cada vez mais presente na arte e na cultura. Mas ainda assim muitas pessoas demonstram alguma dificuldade de entender o que significa cada letra da sigla que representa a comunidade. Na semana em que se celebra o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, na próxima sexta-feira (28), relembramos a luta diária contra o preconceito e também festejamos o amor em todas as suas formas de expressão.
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Dez personalidades se unem aqui para dar voz à causa e pedir respeito aos LGBTQIAPN+, abreviatura que vai muito além das definições de lésbica, gay, bissexual, transgênero, travesti, queer, intersexo, assexual, pansexual, não binário e todas as outras letras que ainda podem surgir.
Abaixo, artistas e influenciadores digitais, que são referências no assunto e vêm despontando na cena atual com suas vozes potentes, falam sobre seu lugar no mundo, abordam como combatem o preconceito, detalham a relação com suas famílias e demonstram o anseio pela liberdade. Confira!
L (Lésbica) – Bruna Linzmeyer, atriz
A catarinense de 31 anos se declarou lésbica em 2016. De lá pra cá, a artista se engaja cada vez mais nas pautas LGBTQIAPN+.
“Há muitas forças da nossa estrutura social que trabalham para que alguns corpos não sejam considerados amáveis. Então amar é revolucionário porque nem sempre o amor é aceito. Eu acho que é importante que as pessoas se sintam confortáveis da forma que são e por isso precisamos falar de orgulho, sempre”, afirma Bruna, que, antes de entender sua sexualidade, chegou a ser casada com o ator e diretor Michel Melamed, atual marido da atriz Letícia Colin. O último relacionamento público de Bruna foi o namoro de três anos com a DJ Marta Supernova.
G (Gay) – Diego Martins, ator, cantor e drag queen
Ao se entender gay, Diego percebeu seu lugar no mundo e foi acolhido pela família. Diferentemente do ator, muitos homossexuais são expulsos de casa e enfrentam preconceito ao contarem sobre sua sexualidade aos pais. “Eu tenho vários amigos e amigas que sofreram muito por causa da família. Inclusive, acredito que isso aconteça com a maioria da nossa comunidade”, diz o rapaz, que ficou famoso ao interpretar Kelvin na novela “Terra e paixão” (2023). O próprio ator já foi vítima de homofobia num prédio em que morava, após dar um selinho no namorado da época ao se despedir dele no portão.
“Uma senhora viu pela janela e comunicou a todos os condôminos que eu estava sendo libidinoso e cometendo atos errados. Entramos com um processo contra ela alegando homofobia, já que vários casais héteros faziam a mesma coisa, mas perdemos na Justiça”, relembra: “A gente está muito longe de alcançar uma sociedade justa, um lugar seguro e de equidade”, afirma Diego.
Ao celebrar o dia 28 de junho, o ator ressalta que a data serve para mostrar para a sociedade a luta da comunidade. “Não é um dia só para a gente se orgulhar, além de resistir, de ser quem é, de se amar. É uma data para fora da nossa bolha, é um dia em que qualquer pessoa vai se deparar com as nossas bandeiras, com as nossas pautas…”, explica o artista, que está em cartaz com a peça “Priscilla, a Rainha do Deserto — O musical” em que interpreta uma drag ao lado de Reynaldo Gianecchini.
B (Bissexual) – Rodrigo Simas, ator
Há pouco mais de um ano, Simas falou abertamente sobre sua bissexualidade, pela primeira vez, em entrevista ao EXTRA. Meses após receber apoio de fãs e amigos, o marido da atriz Agatha Moreira conta como é representar a letra B da abreviatura da comunidade.
“Eu fazia parte da sigla, mas não me sentia muito pertencente. A gente vive numa sociedade que pressiona em todo momento. Fico feliz de dar voz ao B. Muita gente fala que a sigla é bobagem, que a quantidade de letras é um exagero, mas penso diferente. Muitos tentam existir e, várias vezes, não se encaixam. Uma letrinha que alguém possa achar mimimi é capaz de fazer uma pessoa se sentir parte do mundo. Valorizo isso, é importante”, afirma o ator, que venceu uma grande barreira ao falar sobre sua sexualidade. “Sinto um alívio de ser eu mesmo: sem ter que me moldar”.
T (Trans) – Benjamín Damini, ator e cantor
O artista de 25 anos integrou o elenco de “Malhação — Toda forma de amar”, em 2019, na pele da personagem Martinha. Mas ficou mais conhecido ainda no ano seguinte ao compartilhar sua transgeneridade em posts do Instagram. “Eu sou transexual. E nem por isso eu nasci no corpo errado ou odeio minha genitália ou não me amo como sou. Eu sou transexual. E não vou reproduzir machismo, misoginia e masculinidade tóxica”, escreveu ele.
“Viver no Brasil sendo LGBT+ é viver com medo de se tornar estatística”, detalha o jovem à Canal Extra, destacando a constante presença da transfobia e as diversas formas de violência enfrentadas pela comunidade trans. No entanto, expressa orgulho por seu processo pessoal e gratidão pela força da comunidade. “Estar vivo e trocar afeto, força e experiência com outras pessoas LGBT+ alivia”, afirma.
T (Travesti) – Jade Sassará, atriz e modelo
Nascida no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, Jade morou em São Paulo antes de retornar à Cidade Maravilhosa recentemente. A profissão foi o motivo que a levou à Cidade da Garoa, onde sua carreira de modelo acabou a aproximando da atuação.
“Eu me reconheço enquanto travesti, é uma especificidade, uma identidade de gênero latino-americana, que se localiza dentro do espectro da letra T de trans da sigla”, explica a atriz. A multiartista carioca, que já participou de várias produções da Globo, incluindo “Verdades secretas 2” (2022) e “Mar do Sertão” (2022), fala sobre a liberdade e os desafios que enfrenta em sua jornada pessoal e profissional.
“Cada vez que eu sou mais livre e mais corajosa, mais sem medo, mais segura de mim, mais isso me coloca em risco também, né? Por estar muitas vezes lidando com pessoas que não conseguem respeitar o espaço do outro e que frequentemente acham que podem invadir esse espaço”, avalia a jovem de 29 anos.
Q (Queer) – Johnny Hooker, cantor
O termo queer representa pessoas que não se identificam com padrões impostos pela sociedade e transitam entre os gêneros. “Sou muitas coisas. Me identifico como queer, gay, bissexual, já que namorei mulheres no passado… Então, o queer pode transitar entre as letras. Nunca me fechei para viver as nuances do desejo e do afeto”, afirma Hooker.
Aos 36 anos, o cantor preza por sua liberdade. “Tento ser o mais livre que eu posso. Tenho a coragem de encarar tudo sem medo. Tenho certeza de quem eu sou e sinto muito orgulho dos pilares fundamentais da minha personalidade. A liberdade pra mim é inegociável. Não existe dogma de religião ou regra da sociedade que possa me prender”, garante o artista que celebra o Dia do Orgulho: “A nossa comunidade é muito corajosa e está aprendendo cada vez mais a usar as ferramentas políticas para se mover. A gente precisa de direitos, segurança e reparação histórica, porque eu acredito que a luta não se faz só com amor e paz”.
I (Intersexo) – Alana Claudiana, atriz e cantora
Ativista intersexo (quem nasce com características sexuais que não se encaixam nas definições típicas de corpos masculinos ou femininos, podendo incluir anatomia sexual, órgãos reprodutivos, padrões hormonais e cromossômicos), Alana foi registrada como menino ao nascer. Percebeu que gostava de garotos e pensava ser gay. Aos 13 anos, descobriu a intersexualidade ao menstruar.
“Existe um preconceito muito grande com tudo que foge do considerado ‘normal’. Compartilhamos da mesma dor das outras letras. Somos apenas cerca de 2% da população mundial, mas existimos. Temos a nossa realidade ignorada por aqueles que ainda nos veem como aberrações. Alguns bebês nascem com genitália ambígua e são mutilados, mas seus cromossomos sempre serão intersexo”, diz: “Tive conflitos em relacionamentos, vivendo como menino ou mulher. Explicar tudo aos parceiros é difícil. Há o risco de ser vítima da ignorância, da rejeição e até de virar um fetiche na mão de pessoas que querem “provar” por curiosidade”.
A (Assexual) – Victor Hugo, ex-BBB e apresentador
Victor Hugo, de 29 anos, entrou para a história do “Big Brother Brasil” ao ser a primeira pessoa assexual a participar do programa da Rede Globo. “Me identifico como assexual, mas dentro do espectro demisexual ou seja, não sinto tanta atração sexual, mas, se eu estiver apaixonado, pode rolar sexo. Também sou bissexual porque posso me envolver tanto com homens quanto com mulheres”, conta o apresentador, que comanda atualmente seu próprio reality show, “A bolha”, no YouTube.
Desde sua passagem pelo “BBB”, em 2020, ele tem se empenhado em promover uma visão de vida livre de rótulos. “Sempre tive muita vontade de me expressar e de ser quem eu sou, então não ligo para rótulos, para o que pensam ou para qualquer estereótipo. Não são siglas ou letras que me definem, mas a minha essência”, analisa ele, que também é psicólogo.
P (Pansexual) – Reynaldo Gianecchini, ator
Em 2020, Giane contou que se considera pansexual (capaz de se sentir atraído por vários sexos e identidades de gênero). Atualmente, ao fazer a peça “Priscilla, a Rainha do Deserto — O musical”, o ator se aproximou mais da comunidade LGBTQIAPN+ ao interpretar uma drag queen no espetáculo.
“Eu gosto desse senso da comunidade LGBT, talvez eu nunca tenha estado tão próximo assim para entender. Toda comunidade quando se junta tem as suas idiossincrasias, as suas lutas, que fazem com que cada um se agrupe na sua identidade. É muito importante entender que dentro dessa coletividade também há diversidade. Há todos os tipos de pessoas, e todas têm que ser respeitadas dentro das suas individualidades e particularidades. É bonito de ver. Todo mundo é diferente mesmo sendo parecido”, conta o ator, de 51 anos.
Gianecchini foi casado com a jornalista e apresentadora Marília Gabriela, com quem viveu um relacionamento de oito anos.
N (Não binário) – Nila, Atriz
Uma pessoa não binária não se encaixa exclusivamente nas categorias tradicionais de masculino ou feminino. Quem se entende dessa maneira pode sentir que seu gênero é uma mistura dos dois sexos, mas também pode não se identificar com sexo algum… A identidade não binária é um termo guarda-chuva que inclui diversas outras identidades de gênero, como gênero fluido, agênero, bigênero, entre outras.
“A minha construção e o meu processo de entendimento sempre foram muito espontâneos, e minha família sempre me deu espaço para existir dessa forma. Acho que as pessoas quando perguntam sobre isso sempre esperam uma história trágica e sofrida, mas a verdade é que é muito mais fácil crescer aceitando quem realmente somos. E, quando isso envolve uma relação digna e saudável com a família, tudo fica melhor”, explica a atriz, que está no elenco da série “De volta aos 15”, da Netflix.
Para Nila, o apoio de pessoas fora da comunidade LGBTQIAPN+ é essencial na luta: “Precisamos dos que não fazem parte da comunidade. Eles têm que se engajar na nossa causa. Nós já travamos batalhas diárias pela nossa própria sobrevivência, e nada vai mudar se continuarmos sozinhos contra essa violência. Eu me sentirei livre, de fato, quando eu não tiver medo de andar na rua ou de frequentar um estádio de futebol. Isso é liberdade: não ter medo”.
+
O símbolo + no final da sigla representa todas as outras identidades de gênero e orientações sexuais que não se encaixam no padrão cis-heteronormativo. Alguns dessas denominações são pessoas questionando, que são indivíduos que não têm certeza de algum aspecto de sua orientação ou identidade de gênero. Já a pessoa agênera são os indivíduos pode denotar ausência de gênero, gênero neutro, ou ausência de identidade de gênero. Segundo a Comissão de Direitos Humanos de Nova York, existem 31 identidades de gênero.
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