Onde os fracos não têm vez ou um dedinho de prosa sobre saúde pública

O que é um dedinho de prosa com o seu urologista diante do risco mortal de um cancro, companheiro? Relaxa. Você acha que esse simples gesto do fiscalização de toque pode fugir a sua sexualidade, másculo? Desculpa aí, que varão é oriente que não se garante diante de um quebrável e indolor desvelo médico? Que fraqueza desses meus semelhantes, que papelão, mais parecem dublês de Maçarandubas — para lembrar o machão caricato do programa “Casseta & Planeta”.

Relaxa, varão de Deus, fiz vários exames de próstata (raconto cá nos dedos), e confesso: não lhe tira pedaços, você seguirá sendo o mesmíssimo de sempre, zero vai mexer com o seu “eu profundo e os outros eus”, uma vez que brincaria um destemido Fernando Pessoa. Calma, meu velho, não mude de ponto, não tergiverse, sei que o mundo está em guerra, sei que São Paulo está no escuro, mas esse ponto também é muito sério.

Não fuja para a treta das redes sociais. Deixa de ser covarde, meu rapaz, o cancro de próstata é o segundo que mais mata a gente. Só perde, nesse sepulcral campeonato, para o cancro de pulmão, amizades. Vamos seguir os conselhos do placa Antônio Fagundes, que estreou uma campanha linda esta semana para ajudar a macharada a perder esse medinho mortal tão idiota.

Nunca um artista foi tão direto e reto: “Novembro está chegando e com ele a campanha de novembro azul. A pergunta que fica é: quando você vai liberar esse cu aí?”, indaga o ator de “Labirinto” e “Por paixão”, entre tantas novelas de sucesso na Tv Orbe. O vídeo genial foi feito pela turma do Porta dos Fundos, óbvio.

A cada 38 minutos morre um varão com esse tipo de doença no Brasil, “macho-réi” — uma vez que nos tratamos em bom cearenses ou cearês. Por isso, companheiro, o Fagundes não passa tecido, vai direto ao fiofó da assombrada pessoa: “Colocar o cu pra jogo é a melhor forma de se prevenir dessa doença”. Perfeito.

Nos jornais e portais por aí, o valioso e rimável monossílabo masculino aparece escrito assim, ó: c*. Assim mesmo, solene e envergonhado, sob a proteção de um moralista medroso asterisco. No ICL Notícias, o digníssimo surge de forma explícita e pedagógica, finalmente de contas o falso-moralismo só desencoraja o sujeito.

Curiosidade, para deixar você mais relax, antes de pegar o telefone e marcar essa consulta no urologista preposto: o ânus tem muro de 400 apelidos na língua portuguesa falada no Brasil, incluindo butico e furico citados no vídeo. Quantos você se recorda? O “Léxico do Palavrão”, livro do rabi pernambucano Mário Souto Maior, pode ajudá-lo nessa procura folclórica que o Google nem sempre resolve a contento.
Coragem, rapaz, coragem, dos 45 do primeiro tempo em diante é recomendável o fiscalização, mas é melhor consultar o seu médico sobre a hora necessária. Seja varão. Incrível o quanto somos frouxos em relação às mulheres em material de cuidados com a saúde — e olhe que nem careço fazer a clássica conferência com a dor do parto.

Põe esse fiofó pra jogo, segue o Fagundes. Esse campeonato, meu prezado, não é de pontos corridos. É mata-mata. Se oriente, rapaz!, não passe a vida inteira morando naquela velha piada homofóbica de boteco.